Desemprego pode acarretar problemas familiares

Para 4,4 milhões de brasileiros o desemprego representou algo além da perda de sua principal fonte de renda. Para essas pessoas, o relacionamento familiar mudou depois que elas perderam o emprego. E em 95% dos casos (4,2 milhões), mudou para pior.
As mudanças mais frequentes foram de ordem financeira -queda no padrão de vida, dívidas não-pagas-, mas há casos de brigas, nervosismo dos familiares, humilhação e até separações. É o que mostra um desdobramento de pesquisa nacional Datafolha feita entre 9 e 11 de junho, em todas as unidades da Federação.

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Desemprego pode acarretar problemas familiares

O instituto perguntou às pessoas de 16 anos ou mais que se declaravam desempregadas se algo havia mudado no relacionamento com a família ou com as pessoas com quem o entrevistado mora, após a perda do emprego.
Em 37% dos casos a resposta foi positiva -o que equivale, segundo projeção do Datafolha, a 4,4 milhões de pessoas (mais do que a população do Uruguai). Na maioria das vezes, a demissão ocorreu há menos de três anos.

Quem mais sentiu as mudanças negativas em sua vida familiar foram os desempregados das regiões metropolitanas (42%), os que têm entre 35 e 44 anos (46%), os com nível superior (47%) e os mais pobres (39%).

O perfil que emerge desses números é o de alguém que deveria estar consolidando a vida profissional, formando sua família e que, apesar da educação acima da média, tem uma renda familiar baixa, inferior a R$ 1.360 (por causa da perda do salário).
Outros dados corroboram essa imagem: o impacto familiar do desemprego é maior entre aqueles que ainda não têm filhos (42%) e entre os que moram sozinhos (45%). No primeiro caso, pode ser um sinal de que a perda da ocupação ocorreu antes de a família estar consolidada.
No segundo, trata-se mais de consequência do que de causa: 30% dos desempregados separados dizem que uma das mudanças ocorridas em sua vida familiar após a perda do emprego foi a própria separação do cônjuge.

Projetando-se as porcentagens obtidas pelo Datafolha, conclui-se que pelo menos 220 mil pessoas se separaram dos companheiros devido à perda do emprego.

Se essa é uma das consequências mais dramáticas do desemprego sobre a estrutura familiar, há outras mais comuns. Em praticamente 1 em cada 3 casos (31%), os entrevistados queixam-se da piora do padrão de vida: perda do poder de compra, impossibilidade de ajudar nas despesas da casa, deixar de pagar o estudo dos filhos, atrasar as dívidas.

Esses problemas são mais usuais entre os viúvos (45%), entre aqueles que moram em casas com quatro pessoas ou mais (35%), entre os que têm renda familiar até R$ 1.360 (32%) e entre os que fizeram faculdade (40%).

O segundo caso mais frequente, com 20% de respostas, refere-se às brigas e aos desentendimentos familiares, à falta de diálogo. É mais provável que isso ocorra com os mais pobres e menos escolarizados, e aqueles que têm filhos, principalmente os homens.
Em seguida, 12% dos que tiveram a vida familiar afetada pelo desemprego dizem sofrer com o nervosismo e as reclamações -somam-se aos 11% que reclamam da cobrança familiar para que arrumem uma ocupação.

Na sequência, com 7% cada um, aparecem dois grupos: os que afirmam ter passado a depender dos familiares para sobreviver (principalmente mulheres, separadas, com nível superior) e aqueles que se sentem inúteis, humilhados -em geral, com mais de 45 anos e nível superior.
Nem tudo, porém, é negativo: 3% dos que perderam o emprego que afirmam que, após a demissão, passaram a ter mais tempo para ficar com a família e os filhos, além de outros 2% que enfatizam a compreensão dos familiares.

Fonte: Folha de São Paulo